14ª edição – Mário Lúcio de Freitas [ESPECIAL]

Mário Lúcio de Freitas é um artista completo. Músico, dublador, ator, diretor, autor, enfim, faz de tudo um pouco. Dublou o Horácio Gómez e alguns outros atores em Clube do Chaves.

01 – Cite o seu nome completo, local e data de nascimento.
R. Mário Lúcio de Freitas, nasci em São Paulo – SP, em 22/12/1948.

02 – Você é um artista completo e faz diversas músicas para programas,
emissoras e comerciais. Fale um pouco da sua carreira em si.

R. Minha carreira é muita extensa (iniciei em 1952, com quatro anos de idade),
e também muito ampla, pois trabalho como ator, diretor, produtor de
dramaturgia, produtor musical, arranjador, compositor e autor de livros, entre
muitas outras funções. Por isso, meu trabalho aparece em muitos setores
artísticos e em várias épocas diferentes. Nos anos 50, como artista de circo;
no início dos anos 60 como ator, apresentador e cantor; em meados dos anos
60, como baixista, guitarrista, produtor, compositor e arranjador; nos anos 70
como autor de revistas de violão e guitarra, músico, compositor; nos anos 80,
como produtor de aberturas e vinhetas de TV; nos anos 90, além de tudo que
eu já fazia, também me tornei empresário e mais recentemente como autor de
livros, em parceria com Hellen Palácio.

03 – Conte-nos um pouco sobre a sua longa amizade com Marcelo Gastaldi.
R. A gente se conhece desde os anos 60, fizemos muita coisa juntos: criamos
canções, contracenamos como atores na TV Paulista, hoje Rede Globo, fizemos
espetáculos teatrais, fizemos aberturas de programas, de novelas e,
principalmente, fizemos a dublagem da série Chaves juntos. Ele dirigindo e
interpretando o próprio Bolaños e eu fazendo toda a direção musical das
séries, produzindo e arranjando o LP Chaves, e compondo algumas canções
para o disco.

04 – Há muitos anos atrás, ainda na década de 60, no auge da Jovem Guarda,
você participava do grupo Os Iguais junto com Antonio Marcos e Marcelo
Gastaldi. Por quê o grupo acabou? Tentaram voltar depois de algum tempo?

R. O grupo fez enorme sucesso. Foi segundo lugar na parada de sucesso, que
tinha, na época, “A Banda” e “Disparada”, que ganharam o Festival da
Record, empatadas em primeiro lugar. O grupo acabou, acho que porque seus
integrantes quiseram alçar novos voos sozinhos. Nunca tentamos voltar.

05 – Suas músicas instrumentais marcaram diversas atrações do SBT como
Chispita, TJ Brasil, Punky entre outros. Depois de tantos anos fazendo diversos
trabalhos musicais, você parou de trabalhar para o SBT. Por quê? Quis abrir um
novo ciclo ou foi por outro motivo? Explique.

R. Simplesmente não me convidaram mais para criar para eles. Acho que
acharam que tinham alguém melhor para desempenhar essa função. Nunca me
deram alguma satisfação sobre isso. Eu fiquei na minha, né?

06 – Em outras entrevistas, você disse que recebeu uma psicografia de
Gastaldi. Como foi essa sensação?

R. Foi algo incrível, indescritível, mas que não posso descrever com detalhes,
por não ter autorização para isso. Mas esse fenômeno acabou ajudando o
desenrolar dos fatos, que serão conhecidos na hora exata.

07 – Agora passando para um assunto um pouco triste, a morte de Marcelo
Gastaldi. Certa vez, em uma outra entevista, você disse que, pouco antes de
morrer, ele havia perdido a “razão e a vontade de viver”. Pode-nos explicar
mais sobre isso? E afinal, qual a causa da morte dele? Como ficou a família
Gastaldi depois de ele falecer?

R. Ele, infelizmente, não presenciou o sucesso de seu trabalho, tal qual
conhecemos hoje. Em 95, a série ainda não tinha esse prestígio. Sua morte se
deu por uma baixa emunológica, que se complicou. Sua família vive em
dificuldade até hoje.

08 – Suas canções para o LP do Chaves, lançado em 1989, ficaram muito
famosas, principalmente a música “Chiquinha”. O que você achou deste
trabalho que até hoje é reprisado (e não pagam seus direitos)?

R. Fiz três canções para o disco: “Aí vem o Chaves”, abertura da série; “Seu
Madruga”; e “Kiko”. A primeira, em parceria com Antônio Paladino e as duas
outras com Marcelo Gastáldi. A canção “Chiquinha” é de Fernando Netto e
Marcelo Gastaldi, eu apenas a interpretei. Quanto aos direitos autorais não
pagos, uma hora isso se resolve, né? (risos)

09 – Você começou cedo a atuar, como o palhaço Fominha, aos 4 anos. Hoje
em dia, vemos muitos artistas mirins indo por maus caminhos mais tarde, e
por isso como foi encarar a rotina de um meio artístico tão cedo?

R. É a primeira vez que me perguntam isso. Muito boa pergunta. O meio
artístico, às vezes, é “aberto demais”. Assim, se você não souber ficar na
sua, acaba entrando por caminhos não aconselháveis, mesmo. Isso pode
acontecer também em qualquer setor da sociedade. Mas sempre estive nele e
nunca me deixei influenciar por nada disso. Muitos de meus amigos já se
foram, mas eu estou aqui, porque nunca quis experimentar nada daquilo. Por
outro lado, hoje existem leis proibindo crianças de trabalhar, como se isso
fosse prejudicial a ela. Eu que tenho 63 anos de idade e 59 de profissão, posso
afirmar que me foi muito benéfica essa experiência. O que acho engraçado é
que trabalhar não pode, mas fazer “outras cossitas” pode. Não é incrível?

10 – Como foi trabalhar na TV Paulista durante a década de 60?
R. Foi fantástico, pois era uma emissora repleta de monstros sagrados da TV.
Assim, pude contracenar com Manoel de Nóbrega, Ronald Golias, Walter
Avancini e uma centena de feras, que me deram muita tarimba para chegar
onde cheguei.

11 – O seu extinto estúdio Gota Mágica realizou grandes produções como Os
Cavaleiros do Zodiaco. Como eram os trabalhos do estúdio? Por quê terminou?

R. A Gota Mágica foi o primeiro estúdio multifuncional do Brasil. Fazia discos,
comerciais, dublagens, áudios para revistas de ensino musical, etc. Tudo com
extrema qualidade. Por isso, foram feitas nele várias séries de sucesso, como
CDZ, Bananas de Pijamas, Fly o pequeno guerreiro, Dragon Ball, etc. Os
trabalhos lá eram muito caprichados. Também foi o primeiro estúdio a se abrir
para a imprensa e para os fãs. Terminou por motivos particulares meus, e não
pela falta de trabalho ou de aceitação.

12 – A Gota Mágica foi muito criticada pelos chavesmaníacos nos trabalhos do
Clube do Chaves devido a algumas palavras chulas. Por exemplo, em um
episódio, um personagem fala em transar, em outro, o Dr. Chapatin fala que vê
filme de “muié pelada”. Por quê desses termos? Foi obra do próprio Cassiano
Ricardo, da direção de dublagem ou dos tradutores?

R. Foram “cacos” do próprio Cassiano, que recebeu o apoio do co-diretor
Osmiro Campos, que foi quem o dirigiu, na maioria dos capítulos. Mas
acontece também que essa série não era tão ingênua como era Chaves e
Chapolin. Veja que o Chaves era uma criança e o Chaveco era um ex-presidiário.
Era uma outra fase do Bolaños.

13 – Como foi a escolha do saudoso César Leitão para dublar Edgar Vivar no
Clube? Por que Mario Vilela não foi chamado?

R. O Mário Vilella era meu amigo, inclusive dublou pra mim o Rato de Boné,
de Bananas de Pijamas. Acontece que o Botijão era muito rápido, falava com
muita desenvoltura e o Mário, como já vinha doente, não conseguiria fazer
esse personagem. Tanto que depois, na dublagem dos DVDs chamaram-no e
deu problema. Uma pena. Mas não havia nada de pessoal nisso. Quanto à
escolha do Cesar Leitão, foi porque era um profissional extremamente
competente. Havia feito um dos Três Patetas. Também me ajudou como codiretor
na dublagem do Clube.

14 – Quais são seus gostos pessoais se tratando de música?
R. Meu gosto musical é uma mistura de Rock, MPB e Sinfônico. Poucos músicos
tiveram essa influência ao mesmo tempo. Nos anos 60, músicos de rock e MPB
quase nem se falavam (risos).

15 – Tem algum hobby?
R. Meu hobby é fazer as coisas da melhor maneira possível. Nem sempre
consigo, é claro, mas tento sempre. Agradar à todos, a gente sabe que é
impossível, né?

16 – Em meados da década de 90, você e Gastaldi fizeram um piloto de um
programa humorístico chamado Feroz e Mau Mau, que infelizmente não foi pra
frente. Além de dirigir, você atuou muito bem como o Delegado Aranha. Por
que o projeto não foi para frente?

R. Foi nos anos 80 e não 90. Mas aí é que você se engana, pois ele foi
aprovado pelo SBT, mas o Marcelo não entrou em acordo financeiro com a
emissora e por isso ele foi engavetado. Só por isso. Já tinha até equipe de
produção escolhida.

17 – Como foi dublar o Godines e alguns outros personagens no Clube do
Chaves?

R. Foi muito bom. Como o irmão do Bolaños aparecia muito pouco na série,
deixei pra mim mesmo também alguns personagens meio malucos, que gosto
de fazer.

18 – Como foi o começo dos trabalhos com CH no inicio da década de 80?
R. Muito difícil. Não se tinha nada, pois tudo na série teve que ser refeito:
vozes, músicas e ruídos. Partimos do zero. Por isso, Chaves tem a força que
tem no Brasil. É uma série que, do original, manteve apenas a imagem e a
história. Tudo o mais teve que ser re-implantado.

19 -Para finalizar, mande uma mensagem aos fãs de Chespirito.
R. Obrigado por acompanharem meus trabalhos e por me darem a força que
sempre me dão. Foi simplesmente uma honra ter feito parte dessa história
simplesmente fantástica e imortal. Grande abraço a todos.

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